20 de fevereiro de 2015

3:00

   A escuridão faminta, engolia tudo, até que a luz vermelha acordou Carolina de seu sono sempre leve. Abriu a pálpebra pesada. Com os punhos, esfregou os olhos secos.
   Alguma coisa estava debaixo da cama.
  A noite era quente, porém chovia torrencialmente lá fora. Os trovões iluminavam toda a cidade rapidamente, para, logo depois, entregá-la às trevas úmidas e quentes.
  Puxou o cobertor, que havia sido chutado no meio da noite, para perto de seu peito nu. Tornou a abrir os olhos, agora no estado perfeito de visão. A luz ainda residia abaixo da cama. Uma luz constante e forte estava acesa misteriosamente embaixo de seu leito. O que diabos era aquilo? Todos os pelos eriçaram diante da coloquial expressão. O frio lambeu seu o corpo. Sentia terríveis calafrios indo e voltando... e voltando.
   "O que está aí?", disse fracamente, numa evidente tentativa de autoridade. "Eu tenho aula amanhã e... preciso dormir. Saia do meu quarto!"
   É claro! Só podia ser isso. Algum veterano de seu alojamento tentando pregar-lhe uma peça. Ele entra no meio da noite e tenta assustar a caloura... Resolvido! Tinha inclusive um palpite.
   "Bruno... Saia logo daí! Eu sei que está..."
    Ora, tolinha. Se você é capaz de acordar com uma luz vermelha, acendendo abaixo de sua cama, porque não acordaria com os barulhos de Bruno abrindo a porta? 
    Carolina deu um pulo e mudou-se de posição. Agora deitava-se de costas para o colchão. As unhas cravavam na coberta. Ela suava e os calafrios vinham incessantemente. A voz daquela constatação um tanto admirável e assustadora não era de sua própria mente. Ela ouvira em sua cabeça, mas não era a sua própria voz mental! Era como um ser maligno e debochante deitasse acima dela, com seu corpo sem forma, e dissesse tais palavras telepaticamente para desesperá-la.
   O pânico a consumia. Ela rangia os dentes e os olhos arregalados iam e viam, da esquerda para direita e depois ao contrário. Frenéticos. Numa correria lunática. Suas unhas quebraram-se no cobertor que ela apertava e exercia uma força inumana. O sangue já caía dos dedos no cobertor branco, maculando-o. Ela ainda não sentia dor e tudo que podia ver era graças à luz vermelha.
   O que havia afinal abaixo da cama? Não era algo normal, sentia isso. Os instintos eram infalíveis, tinha certeza. Alguma coisa ruim acontecia ali. Alguma coisa invisível dançava ali, com um sorriso disforme e amedrontador. Dançava ao redor. O coração era uma zabumba em disritmia. Alguma coisa ruim está acontecendo aqui...
   Então lembrou-se da canção que sua mãe cantava. Cantava muito antes de ter fugido. Muito antes de cair o primeiro dente de leite de sua filha. Carol começou a cantar em voz bem alta:
   "Quando algo ruim acontecer, cante bem alto essa canção..."
   "... A ajuda virá, pois ela está em seu coração." Completou. Era a voz de sua mãe desaparecida! Estava embaixo de sua cama... Junto à luz rubra! A certeza veio ao lado do pânico.
   Carolina não sabia rezar direito, mas puxou em sua cabeça diversas partículas de orações como se fosse uma. Um pedido desesperado de qualquer ajuda que fosse.
   "Não tenha medo, minha filha, venha me ver aqui embaixo. Estou com saudade."
   Carol gritou estridentemente, o mais alto que pôde.
    Você não deveria ter gritado. Falou a voz maligna em sua cabeça. Então levantou-se vagarosamente. Levantou-se o que quer que estivesse ali embaixo. Ela pode ouvir os ruídos que se aproximava. A coisa então parou à margem da cama. Podia sentir uma respiração quente. Então aquilo abriu os olhos e todo o quarto (agora não apenas abaixo do leito) inundou-se da luz rubra.
    Ali estava a fonte da iluminação vermelha: os olhos de um homem de três metros que se agachava por causa do teto. Ele a fitava com seus olhos vermelhos sem piscar. Olhos iluminados. Iluminados de maldade pura.

20 de julho de 2014

O cão


    Precisava ir ao banheiro.
    Bruno caminhava lentamente pelo corredor que saía de seu quarto. Passos lentos e leves para não acordar seus pais. Já era tarde e ele não pretendia ver a fúria nos olhos da mãe.
    Eles lhe perguntariam: “Por que diabos está acordado até agora?!”. A resposta era óbvia: ele estava em seu computador. Os seriados consumiam suas madrugadas de férias. Seu pai já ameaçara confiscar o laptop, caso Bruno fosse pego novamente acordado tarde da noite.
    A bateria do celular já anunciava a proximidade do desligamento. O telefone servia como lanterna para o caminho ao banheiro.
    A escuridão era ameaçadora. Logo à frente, uma escada de madeira. Lisa e longa. Se o aparelho desligasse, ele estaria apenas a mercê da luz prata da lua.
    Era Lua Nova e tudo estava com um aspecto negro mesclado ao prateado em meio às trevas. O casarão antigo gritava dolorido a cada passo vagaroso nos tacos de mogno. A luz fraca do celular refletia no assoalho que recentemente fora encerado pelas mãos da habilidosa empregada.
    Dona Bardô era velha e seca. Trabalhara às três famílias que lá moraram. Dormia num casebre que ficava no jardim de trás do casarão. Limpava todos os dias, mas raramente era vista pelos patrões. Discreta e circunspecta, só falava com os chefes no dia do pagamento. Sempre comentavam do mau hálito da velha com o filho.
    O que chamava a atenção de Bruno era o jeito como ela andava arcada combinado às olheiras, deixando a impressão de um eterno cansaço.
    Ele continuou a andar devagar, sempre pedindo mentalmente que o piso não rangesse tanto. Passou em frente ao quarto dos pais e teve a sensação de não ter ninguém lá. O ar que soprou era solitário e frio. Tinha uma forte convicção de que estava sozinho em casa. Ninguém dormia ali.
    A certeza estranhamente não lhe pareceu loucura. Era um cético. Não acreditava em energias, muito menos em sexto sentido.
    Nada daquilo fazia sentido, finalmente percebeu.
    Sorriu aliviado. Continuou o trajeto ao banheiro. Alívio real sentiria quando chegasse lá.
    O celular gritou num pedido de “carregue-me” assim que chegou a escada. Dezenove degraus em curva que chegavam à sala principal. A bateria não poderia acabar ali, tinha pelo menos que descer os degraus em segurança!
    Quando inconscientemente contou o décimo terceiro degrau descido, ouviu-se o último grito do celular e, em um fraquejo, emitiu o último raio de luz. Escuridão.
    Merda.
    Piscou três vezes os olhos para habituar-se ao escuro. Sua nova fonte de luz era a Lua, que entrava na casa e era refletida pelo piso polido.
    Desceu os últimos seis degraus
     O silêncio, nunca antes escutado naquela sala, impressionou Bruno grandemente. A atmosfera sem som cheirava à esterilidade. Nada com vida poderia viver ali a noite. Algo acelerou sua adrenalina. Seu coração batia forte, podendo senti-lo na garganta.
    Em um flash seus olhos fecharam e ele voltou àquele momento no quarto do vizinho, João. Seu rosto cheio de espinhas e seu dente consumido pelo tártaro eram iluminados por uma lanterna debaixo para cima.
    – Vocês deveriam demitir aquela velha. – Disse lentamente. – Você nunca sentiu o cheiro de bosta da boca dela?! É coisa de feiticeira, é uma praga às bruxas...
    – Cale a boca, João! – Repreendeu Bruno.
    – Você não sabe o que aconteceu para a primeira família partir da sua casa e vendê-la a preço de bananas...?
    João esperava ansiosamente o interesse de Bruno. Não recebendo, continuou a história mesmo assim:
    – A filha mais nova do primeiro patriarca da casa foi assassinada... – Ele sorriu e voltou a falar lentamente. – ...Lá dentro.
    Os olhos de Bruno tremularam procurando um sinal de verdade no rosto de João. A acne do garoto avermelhou-se de prazer quando sentiu o medo demonstrado.
    – Dizem que o cachorro da família comeu a menininha de madrugada. – Ele ria convulsivamente. – E imagina quem era a babá da vítima?! Dona Bardô, a bruxa do casarão.
    – Dessa vez você se superou na criatividade. – Bruno riu e, para seu desgosto, saíra uma risada um tanto insegura.
    – Minha avó se lembra de quando aconteceu... dos comentários. – João falava muito sério. Bruno preferia acreditar que João era um grande mentiroso.
    – Minha avó disse que uma semana depois da família partir, o delegado da cidade encontrou dona Bardô dentro do casarão... Na sala... – Ele deu um sorriso torto, até ele estava possuído pelo medo. – ... Conversando com o espírito da menininha morta.
    Então Bruno abriu os olhos e estava de volta ao pé da escada, na sala principal da casa. Escuridão.
    Aquela lembrança o pegou de surpresa. Quando João contara aquela história, ficara um ou dois dias evitando a sala e, depois, acabou esquecendo.
    Mas agora, seu coração dava murros em sua garganta para pular pela boca. Seu estômago embrulhou-se.
    O silêncio estéril e a escuridão mostravam suas garras.
    “Era apenas uma história! Vá ao banheiro logo e volte para o quarto!”, sussurrou a Voz do Bom Senso determinada. Ele sorriu. Era engraçada a situação ridícula em que estava. Uma história, apenas uma...
    “E se for verdade...?”, gaguejou o Medo. Sua voz era estúpida, mas a frase menor surtiu mais efeito sobre seu corpo, fazendo suas pernas estremecerem.
    O silêncio deu lugar a um pequeno barulho no couro do sofá e depois retornou frígido.
    Bruno olhava para a direção do barulho sem piscar. Gostaria que fosse sua imaginação pregando peças. Quando percebeu que o som não retornaria sorriu e enxugou o suor gelado da testa.
    – Onde estão seus pais, Bruno? – Perguntou algo que sentava-se no sofá de costas para ele.
   

    Bruno sentia a situação sufocá-lo. Não conseguia achar palavras para responder a pergunta de quem quer que seja.
    – Meus pais também dormiam naquele quarto. – A coisa ficou um longo tempo calada. – Mas eles foram embora.
    Sufocava cada vez mais. Bruno colocou as mãos tremulantes no pescoço, tentando desapertá-lo.
    – Quem... Quem é você?
   – Não lembra de mim? – A voz da coisa parecia extremamente ofendida. – Eu ficava atrás de você... Assistindo aos seriados. Pensei que tivesse me notado nas madrugadas em que passamos acordados.
    Bruno deu um berro, caindo no chão.
    – Não faça isso. Vai acordar ela! – Pediu a coisa.
    Quando levantou-se do sofá, Bruno pôde enxergá-la.
    A imagem de uma menininha com os cabelos longos e loiros tremulava, iluminando o ambiente.
    Seu rosto e seu braço direito começaram a modificar. Rapidamente em lugar do nariz e do olho esquerdo formaram cavidades rubras: feridas de mordidas. Longos arranhões de pata passeavam, formando na face da pobrezinha caminhos oblíquos. O lábio superior dava a impressão de ter sido puxado para cima, mostrando todos os dentes sobrepostos na gengiva arroxeada. O braço agora estava pela metade, com um osso exposto numa ferida com a carne quase moída.
    Os olhos de Bruno, diante da visão terrível, arregalaram-se tanto que ameaçavam pular. Ele começou a lembrar de todas as poucas missas que não faltou e começou a rezar sussurrando.
    “Precisa fugir daí!”, a Voz do Bom Senso e o Medo não falaram contrapostas e sim em uníssono.
    Arfando, ele começou a recuar, rastejando, em direção à escada.
   Inspirava e expirava, se afastando da imagem horrível e luminosa. Inspirava e Expirava. Inspirava e expirava o ar estéril e silencioso, enquanto a menininha, parada, chorava.
    Ela passava os dedos tremulantes sobre a ferida do rosto freneticamente. E voltava os dedos em direção aos olhos, com muito sangue. O retorno do ato era as lágrimas que caíam indiscriminadamente do olho bom.
    Agia como se tivesse acabado de descobrir que estava machucada.
    – Me ajude, Bruno... Me ajude!
    Ele ainda se afastava o mais rápido que podia em direção à escada. A perna doía excruciantemente após a queda devida ao susto. Inspirava e expirava.
    Inspirava e... Ele sentiu o cheiro.
    O odor de esgoto a céu aberto. Cheiro de merda. O hálito de dona Bardô. Quando Bruno percebeu do que se tratava, já era tarde. Ele tocava na velha corcunda.
    Num grito, virou-se para trás e viu a velha sorrindo. Ela alternava sua visão entre o garoto no chão e o espírito da menina à frente, no sofá. Ela revelava todos os dentes podres e um fio de saliva espessa caía entre eles.
    – Carne fresca. – Disse lentamente, deliciada.
    – Fuja, Bruno! – Gritou a menina ferida e reluzente. Ela chorava ainda mais, soluçando.
    O garoto, no chão, não conseguia se mover. Ele estava hipnotizado pelos olhos da velha que agora fitava-o. Ela falava palavras estranhas, em uma língua desconhecida e o bafo era torturante. Entre crises de pânico e ânsia, conseguiu finalmente desgrudar-se dos olhos de dona Bardô.
    A velha começou a rosnar baixo e o volume dos sons que fazia com a boca aumentava gradualmente. Os dentes podres começaram a se afiar. Como o fogo lambe o papel com álcool, os pelos foram avançando sobre o corpo da bruxa. O nariz afinou-se, moldando perfeitamente com a boca agora cheia de dentes pontiagudos.
    Um cachorro. Ela estava se transformando em um cão! Era tudo verdade! Era ela o cachorro que matara a menina e não o da família... Era ela! A assassina.
    “Carne fresca”, sussurrou o Medo em sua cabeça, imitando a velha. “Fuja, Bruno!”, agora a voz tornou-se aguda e dócil, imitando o fantasma da garota. “Você é o próximo, Bruno...”, o Medo retornara com sua sonoridade normal, patética. Bruno esperava a Voz do Bom Senso opinar contra, mas o que recebeu foi o silêncio.
    Tudo estava escuro novamente. O fantasma da menina ferida fora embora. Os olhos púrpura do cão eram pequenas fontes luminosas com a fraca iluminação lunar. Ele rosnava forte e Bruno podia sentir o odor pela boca de tão intenso.
    – Por favor, tenha piedade de mim...! – Pediu deitado sobre a madeira.
    As patas enormes do cão maligno estavam sobre ele.

15 de janeiro de 2012

Um a Um - Parte VII - O Final.




  - Seja bem-vindo, papai... - Falou Guilherme. A figura do homem projetado à porta entrou imediatamente. Ele pegou Maria e a jogou no sofá, onde estava Alberto desmaiado com a seringa no braço, fincada. Maria estava em pânico e naquela hora, aposto que, assim como ela, ninguém teria medido as palavras.
   - Chega de paranoia, Guilherme! Você nunca teve um pai! - Disse a garota.
   - Eu sempre tive um pai, mas graças ao seu nunca pude conhecê-lo... - Disse Guilherme cuspindo na face de Maria.
   - Eu não entendo qual é o motivo de tudo isso... Qual é o seu problema?! 
   - O seu pai foi o meu problema desde a minha infância, todos os dias crescia em mim um ódio tão grande de você ter uma família e eu não. O seu pai colocou o meu na cadeia por ser um assassino. Não importa o que ele é, ele é o meu pai e ninguém tem o direito de roubar uma infância. Sua família acabou com a minha vida! - Ele estava realmente irado. - Sabe o que minha mãe dizia nos natais e nos dias dos pais enquanto eu chorava?! "O seu pai não é um homem, ele é um demônio! Você deveria ter vergonha de chorar por ele!" 
   - Guilherme... Você não pode me culpar pelas suas tristezas! Meu pai é um delegado! O serviço dele é prender pessoas! Esse aí - apontou para o homem desconhecido - é um assassino! Você não faz ideia de como você está sendo ridículo... Mas espere! Se você estava querendo a mim... Por que você matou a todos e não fez o trabalho de uma vez?
   - Maria, o que você é? Você está me saindo uma garota tapada e ignorante... Isso é uma vingança! Eu queria que você sofresse tudo o que já sofri... Queria que soubesse como é a dor da solidão, como é quando o seu mundo desmorona por culpa de uma pessoa... O Delegado Arnaldo, seu pai, é o causador de todo esse sofrimento... Antes de morrer lembre que a culpa é dele...
   - Delegado Arnaldo... Quanto tempo eu não o vejo! Depois de filmar a sua morte e enviar pra ele, juro que faço uma visitinha a ele... - O homem desconhecido começou a rir de um jeito totalmente exagerado. 
   - Não toque na minha família! - Ameaçou Maria.
   - E se eu tocasse?! E se eu matasse a todos?! O que você faria?! Voltaria dos mortos para ter sua vingança?! - Riu novamente.
    Por muito tempo seguiu-se um silêncio terrível, talvez o sentimento fosse de um animal em um abatedouro, na fila para a morte. Alberto só acordou três horas depois, já amarrado e imobilizado como Maria. Ele pedia muitas explicações e seus acessos de fúria manifestaram-se naquele momento, porém já era tarde.
    Três toques foram ouvidos na porta, algo estranho, já que no jogo, não sobrou ninguém.
    - Ei, Maria... Pra você que acredita que pode voltar dos mortos, tem uma pessoa que pode te contar como repetir a proeza! - Guilherme riu alegremente, como se não estivesse prestes a matar duas pessoas. Ele abriu a porta, revelando a face de alguém que nunca imaginariam que iria reaparecer em forma humana. João entrou e pronunciou um "oi" muito difícil.
   - Desgraçado! Como você pode nos trair tanto?! Você é uma vergonha! - Exclamou Alberto, tentando se soltar das cordas.
   - Eu nunca soube desse jogo! Quando eu estava dentro do buraco que tomei ciência de tudo! - Falou João, também furioso.
   - Por que João? Qual é o motivo da traição?  Nós sempre fomos amigos... - Maria chorava e suas palavras fluíram a partir da grande decepção.
   - Eu prefiro viver. Sou uma pessoa esperta. Minha vida vale mais que tudo no mundo. Você acha que eu morreria por você, idiota?! - Deu um sorriso e virou para o pai de Guilherme. - Ligue a câmera pra filmarmos a morte e acabar logo com isso...
   Não era só do rosto de Maria que as lagrimas caíam, mas de Alberto também. Ninguém, nem sua mãe, o presenciaram chorando a partir dos seis anos. A decepção com João, o amigo de infância, era grande. 
   Guilherme e seu pai arrumaram a câmera.
   - Delegado Arnaldo! Como vai? Quanto tempo nós não nos... esbarramos... Eu estou com alguém aqui que você ama muito. - Disse o homem à câmera na qual a luzinha vermelha piscava  indicando a gravação. - Você, Maria, pode mandar suas últimas palavras pro seu papai...
   - Pai, eu te amo. Nunca se culpe pela minha morte. Você foi o melhor do mundo pra mim e...
   - Basta! Vamos logo com isso! - Repreendeu. -  Lembra quando eu jurei que você iria lastimar por ter me prendido? Lembra-se quando o senhor me humilhou na frente de todos aqueles carcerários? Espero que a partir de hoje se arrependa cada vez que respirar! - O homem engatilhou a arma. - Adeus Maria.





     Maria fechou os olhos e não viu nada. Mas após vinte segundos, viu que sua morte estava demorando muito. Quando abriu os olhos levou um susto. Guilherme e seu pai estavam desmaiados ao chão e João desamarrava a corda de Alberto. 
    - Vocês acreditaram que eu apoiaria uma loucura dessas? - Ele ria. 
   - Espere... Não é possível que esteja vivo, nós vimos o seu corpo carbonizado! 
   - Guilherme tinha tudo pensado, eu seria o único sobrevivente do jogo, nós sempre fomos amigos, mas nunca o apoiaria... Na verdade o corpo era de um cachorro que foi jogado no buraco junto comigo... Foi horrível vê-lo queimando... - Respondeu João. - No dia em que o Aberto me viu na floresta com o tronco, foi algo pensado para fazerem vocês pensarem que eu era "o mal do tronco" e que era uma assombração. 
   -Vamos sair deste lugar... - Opinou Alberto.
   - Saiam vocês, vou pegar e fazer umas coisas aqui dentro... - João sugeriu.
   Antes de sair, Alberto descontou toda a sua raiva nos dois desmaiados com uns bons pontapés.
   João após algum tempo saiu com uma mochila cheia de provas do crime e a câmera do maníaco nas mãos, contendo vários vídeos do povo que um dia foi feliz naquele chalé.
   - Quando eu contar até três, vocês se  jogam no chão sem medo nenhum! - Para evitar perguntas ele logo começou: - Um... dois... três... - Foi algo bem rápido, os três se jogaram e João lançou um isqueiro aceso para trás, causando uma enorme explosão na casa onde o garoto anteriormente jogara gasolina. - Adeus lugar maldito! 
    Os três olharam para trás, vendo a casa detonada por chamas e sentiram-se bem... Vitoriosos. A justiça foi feita. Com certeza Lúcio, Sara, Eleonor e até mesmo o cachorro sentir-se-iam felizes se pudessem ver o feito. As mortes dos amigos foram vingadas sobre chamas. 


"Não é de morrer que tenho medo. É de não vencer" - Jacqueline Auriel.

  

  



   Dedico Um a Um aos irmãos, tanto os de sangue - Leonardo e Mayara -, como também os 1533 irmãos que me apoiaram e leram o blog, os irmãos divulgadores - Bárbara Salvador, por exemplo - e a um irmão muito especial que apesar de ceder seu nome, mesmo sabendo que era para o assassino da história, levou tudo no bom humor. Guilherme Quirino, o mundo precisa de amigos como você! Um abraço a todos especiais que não citei, espero que entendam.




fim.

8 de janeiro de 2012

Um a Um - Parte VI


    

   Apenas três sobreviventes sobraram no jogo Um a Um que logo acabaria e alguém entre eles sobreviveria. Alberto e Maria estavam temendo a volta do assassino, sendo este um ser vivo ou não, talvez morto. A morte de Eleonor fora algo que os preocupavam, nenhum dos dois ouviram passos, nem grito, nem som algum na noite do assassinato. 
    Guilherme só dormia, não saía do quarto. Ambos não sabiam o que ele viu e sentiu estando cara a cara com o assassino. Após a morte do melhor amigo João - queimado -, delirava e chorava com facilidade. Maria sentia-se culpada por um dia desconfiar dele, ele era a maior vítima que qualquer um ali. Guilherme sempre foi um garoto revoltado, nunca teve um pai... Ninguém da pequena cidade comentava sobre o assunto. O pai de Maria não gostava da amizade dela com o garoto, falava que a família do rapaz não era uma boa influência.



    Alberto jurando ouvir um barulho na cozinha, desceu as escadas e foi até lá. Encontrou algo pequeno e desesperador: um DVD. No momento, sentiu seus pés fora do chão e suas mãos tão pesadas que eram incapazes de pegar o objeto, mas respirou fundo e com dificuldade segurou-o. Maria, cansada de esperar o retorno de Alberto, desceu as escadas. Quando viu o disco na mão do amigo, sentiu-se exatamente como ele.
   Ambos acharam ético chamar Guilherme para assistir junto, já que ele estava também incluído ao jogo. 
   Os três sentados, esperavam que algum tivesse coragem de apertar o play, já que da última vez que o fizeram, começou-se a pior experiência de suas vidas, que sugou a paz, o sono e a esperança de todos.
   - Eu sei que todos desconfiaram de mim, mas para provar realmente que não estou relacionado com os acontecimentos, me ofereço para apertar o play - suspirou Guilherme -, mesmo que me custe a vida... - Ele pegou o controle e tocou no botão que reproduziu o contato com o maníaco.
   No vídeo, a mesma paisagem do outro DVD: uma floresta vista de cima. A voz alterada do assassino pouco demorou a aparecer.
   - Parabéns aos três finalistas desse jogo tão... Tão divertido! Pena que suas regras não passassem de uma farsa. Mais rápido do que imaginam, cumprirei o meu objetivo, não fiquem curiosos, eu estarei aí... 3, 2, 1. - Terminando a pronúncia de "um", Alberto soltou um grunhido, desmaiando. Maria desesperada olhou para ele e viu uma seringa fincada em seu braço, porém ainda respirava. Guilherme gargalhava psicoticamente. Ela tentou fugir, mais a imagem de um homem alto e desconhecido projetou-se à porta.
   - Seja bem-vindo, papai.... - Falou Guilherme.


Todos os mistérios revelados. 
Continua no último post de  Um a Um.
     

6 de janeiro de 2012

Um a Um - Parte V




"Você ganha forças, coragem e confiança a cada experiência em que você enfrenta o medo. Você tem que fazer exatamente aquilo que acha que não consegue." - Eleanor Roosevelt.




   Afinal, como não suspeitar de Guilherme após os fatos ocorridos? Tudo se ligava a apenas um caminho, que era o amigo. Eleonor, Maria e Alberto - sobreviventes do jogo psicótico Um a Um - suspeitavam de alguma ligação de Guilherme com  os assassinatos misteriosos que aconteceram com os amigos João - morto queimado -, Sara - a tiros na misteriosa casa da árvore, provável habitat do maníaco - e Lúcio - morrera no lugar de Eleonor para salvá-la. 
   - É bom acabar com esse jogo agora! - Exaltou-se Alberto, deixando voltar sua ira incontrolável. Subiu as escadas do chalé e foi ao quarto onde Guilherme dormia. Toda a força da massa muscular de Alberto chocou-se contra a face do suspeito, acordando-o. O sangue se revelou em seus lábios
   - O que foi?! - Guilherme arregalou os olhos. Pela primeira vez não repetiu a estranha frase sobre "o mal do tronco". De repente foi levantado pelo agressor com uma mão.
    - É melhor que fale se você é o assassino, ou eu... - Ele estava tão furioso com a situação que chegou o jogo, que seria capaz de fazer coisas  horríveis com o rapaz, não sabia o que faria, só tinha consciência que não pensaria na hora. 
   - Eu não sou o assassino, eu juro! Estou tão assustado quanto você... Eu fui o único que sobrevivi ao vê-lo. Ele não é bom. - Começou a chorar, demonstrava claramente que estava morrendo de medo, um medo maior do que a dor do murro de Alberto.
   - Onde eu posso encontrá-lo? - Ainda respirava ofegante, era difícil controlar o temperamento explosivo que nele morava. 
   - Ao norte da floresta... Mas por favor, não vá! - Implorou. Alberto não tinha o costume de ouvir conselhos nos ataques de fúria. Largou o amigo que ainda estava no ar e saiu pela porta com um machado em mãos.
   Maria e Eleonor choravam pela partida inesperada do amigo que certamente entraria na lista de vitimas do massacre. Por horas e mais horas a tensão aumentou e nada, não voltava.
   Quando as esperanças tinham completamente deixado as garotos, Alberto, com um golpe, abriu a porta. Seus olhos estavam perdidos, frios, sem expressão alguma. Ele suava como um maratonista. 
   - Eu vi algo, - disse sem que tivessem o trabalho de formular alguma pergunta - eu vi João, ele não estava morto, ele caminhava pela floresta recolhendo um tronco... Tentei falar com ele, mas não respondeu, apenas olhou e sumiu com a madeira. Ou ele é o assassino ou eu vi um... - não ousou continuar.
   - Ele não está vivo. - Opinou Eleonor. - Vocês dois o viram carbonizado e ao seu lado o canivete! 
  - Então devemos tentar responder à pergunta: estamos lidando com algo sobrenatural? - Disse Maria pausadamente.



   Na manhã do seguinte Eleonor não levantou de sua cama, por um simples motivo: ela estava morta. Mais do que o choque de uma morte, foi a arma usada: o canivete achado junto ao corpo de João. Nenhum dos dois conseguiram dormir naquela noite, mas não ouviram ninguém entrar ou gritar no quarto. Algo realmente estranho mudou o rumo dessa história.




Natural ou sobrenatural?
Continua.

19 de dezembro de 2011

Um a Um - Parte IV

 


   Guilherme tinha muitas alucinações após ter retornado. Todos faziam perguntas, mas a resposta era sempre a mesma: "O mal do tronco... Vai pegar um a um." Não falava nada além disso, sempre sussurrando. Todos não entendiam o sentido da frase. 
   Decidiram  reunir  e discutir alguma rota de fuga pela floresta, mas nenhum deles chegavam a um consenso, mas o assunto se desviou totalmente para a situação de Guilherme, a maioria se sentia ameaçada por ele, como se fosse um suspeito dos acontecimentos. Eleonor - que estaria morta se seu amigo não entrasse na frente do tiro - repetia que o assassino tinha uma mira infalível, Guilherme não era rápido como Lúcio, nem forte como Alberto, ele não conseguiria fugir do maníaco. João não aprovou as acusações que faziam de seu melhor amigo, dando um murro na mesa onde estavam. Saiu e foi ao quarto, encontrando-o.
   - Amigo, todos podem duvidar de você, podem te acusar, mas eu vou estar ao seu lado, sempre. - Disse João, porém não esperava por uma resposta.
   - João, fuja pelo sul da floresta. Foi esse o caminho que fiz, o louco não passa por lá, não conte para ninguém. Tenha cuidado com barulhos. Eu voltei para buscar os outros, mas quero que você vá na frente... - Sussurou Guilherme e virou para continuar a dormir.
   João demorou segundos para interpretar a fala do amigo. Ele não gostaria de partir e deixar os outros pra trás, mas foi exatamente o que fez. Pegou uma bolsa e colocou suas coisas. Saiu do chalé correndo, entrando na floresta.
    Correndo pela mata, sem ver, caiu em uma armadilha: um buraco escondido por folhas. Ele era muito fundo e úmido, a sensação de pânico dentro dele era terrível. João estava muito machucado pela queda. Mas o pior estaria por vir. Cada vez mais, ele sentia o som de passos aproximando-se dele, procurou esconderijo, mas não havia. A sensação da morte morava onde ele estava. Mas o som não era de ninguém que apresentasse ameaça, lá em cima, estava um cachorro, do tipo pit bull, ele não estava no temperamento normal de sua raça, ele tinha medo, como um cãozinho em meio a fogos de artifício, tremia e tentava se comunicar com João, de repente, quando olhou para trás, alguém lhe chuta para dentro do buraco. O cachorro e o homem, trêmulos, abaixo do solo, ambos machucados. O rosto do autor do chute foi revelada: a face da morte.




   Ninguém sentia a ausência de João, mas a reunião do grupo fora interrompida por outro motivo, um cheiro horrível, era como se queimassem as piores coisas que já presenciaram. Algo insuportável. Aberto observando, descobriu que a fumaça vinha de um ponto da floresta, o odor era assustador. Ele e Maria foram ao local.   Seria o fogo um sinal de vida? Alguém que poderia ajudá-los a sair de lá? O que seria afinal aquele cheiro? 
   O fogo vinha de dentro de um buraco, mas já estava baixo. Com um extintor que levaram, conseguiram apagar. Com certeza, quem fez aquilo usou gasolina, já que a floresta estava úmida. Mas algo lhes mostraram que quem fizera aquilo não era alguém que os pudesse ajudar, era um assassino. Havia parte de ossos e roupas carbonizados, mas o que lhes deixaram mais em choque, foi o fato de terem reconhecido um objeto: O canivete que pertencera a João, que estava ao lado dos restos.
   Ambos voltaram para a casa, Maria aos prantos. A partir daí viram que o jogo Um a Um era sério. O maníaco não estava brincando... 


Bem-vindo ao meu jogo.
Continua.

4 de dezembro de 2011

Um a Um - Parte III




   Amanheceu o dia e a procura do amigo Guilherme continuava pela floresta em pequenas duplas. Eles marcavam as árvores que passavam com um canivete, facilitando o retorno. Naquele momento, apenas Sara tinha consciência que eles corriam risco de vida, pois lembrava muito bem das palavras do assassino no DVD, por isso fez questão de ficar com o canivete, ela teria mais chances de sobreviver. Sara era egocêntrica e fútil, nunca mudou. Maria era a única que compreendia o jeito de ser da amiga, que sempre sofreu com os maus tratos de sua madrasta e seu pai, o magnata Eduardo Gourgel.  “Ela é apenas uma garota rebelde”, justificava Maria.
   Eleonor e Sara andavam pela mata que neblinava pela manhã. De repente, as duas foram surpreendidas por um tiro, que certamente tinha como alvo uma das duas, sem pensar, ambas caíram ao chão. Nenhuma enxergava a outra, foram cegadas pela névoa que era fortíssima próxima ao solo. Sara, sem hesitar, começou a arrastar-se pelo chão, na direção que lembrava ser a trilha na qual faziam. Eleonor não saiu do lugar.
    Ela engatinhou até que bateu a cabeça em algo de metal. Apalpou e chegou à conclusão que aquilo era uma escada. Começou a subir, subir e subir, quando olhou para baixo, viu a floresta sem neblina. A direção dava para uma casa de madeira na árvore. Ela pensou que talvez lá pudesse ter alguém que lhes prestassem socorro, uma das ideias que quando estamos em desespero, parecem a última saída.
   A casinha era de madeira que já estava podre, o chão rangia e continha alguns buracos possibilitando ver a quantos metros ficava do solo. Não havia janelas, apenas dois buracos nas paredes. Dentro dela estava apenas uma câmera apontada para um dos buracos da parede e uma mesinha com um objeto muito familiar para todos do grupo, Sara o pegou e colocou no bolso. Mas o maior susto de todos estaria por vir. Quando ela olhou a câmera e a paisagem que ela estava apontada, percebeu que o lugar onde pisava, era o mesmo em que o assassino gravou o DVD. O mesmo cenário que aparecera com sua narração, estava aos seus olhos.
   A porta se abriu, atrás dela, rangendo dolorosamente.
   - Eu tenho uma visita hoje? – Virando-se, ela viu a face do maníaco.




   Toda a turma voltou ao chalé, inclusive Eleonor que fora deixada para trás, chorando pelos dois desaparecimentos. Todos foram trocar de roupa, mas quando chegaram ao quarto, encontraram o corpo ensanguentado de Sara, no colchão que ela costumava a dormir. Todo seu cabelo estava com folhas e gravetos, com certeza fora arrastada pela floresta.
   Meio ao choro, ouviram cinco murros na porta. Alberto arrancou um cano pesado da cozinha e foi em direção à porta.  Ele era forte e tinha um comportamento destrutivo quando estava irado, já se envolveu em vários problemas por causa de seu temperamento.  Ele abriu e no meio segundo que ia atacar, viu de quem se tratava: era Guilherme.

   - O louco... – Disse ele desmaiando à porta.



Traidores estão mais perto do que desconfiamos.
Continua.